quinta-feira, novembro 20, 2003

Pontos de vista

Aqui há tempos o Senhor Bispo de Vila Real lançou um alerta na comunicação social para o facto de as missas dominicais se estarem a ressentir da excessiva presença feminina junto ao altar : ministras da comunhão, salmistas, acólitas, membros dos coros, etc. etc. o que, no seu entendimento, era altamente negativo e condicionador para a presença dos rapazes no decorrer das cerimónias litúrgicas.
Não contando com o facto da referida opinião me parecer altamente discriminatória e coincidente com uma postura que a comunicação social tem veiculado como proveniente de sectores mais retrógrados e conservadores do Vaticano, desejosos de demarcar território em vésperas de possível eleição de novo papa, parece-me que a realidade religiosa portuguesa actual não se coaduna bem com os comentários do Senhor Bispo. É certo que não conheço a situação nessa diocese, mas posso pronunciar-me um pouco sobre aquelas que conheço melhor, mais concretamente o que vejo nas cidades de Póvoa de Varzim e de Vila do Conde, da arquidiocese de Braga, e em Portalegre, na diocese de Portalegre e Castelo Branco.
Com efeito, nestes três casos, não é presença feminina junto do altar que afasta os rapazes das cerimónias litúrgicas. Pura e simplesmente nas missas dominicais a quase totalidade dos rapazes com mais de treze anos não põem os pés na igreja e uma observação como a que foi proferida não é mais do que tentar meter a cabeça na areia e não procurar indagar das verdadeiras razões do problema. No norte, depois de terem feito a comunhão solene, eles afastam-se das práticas religiosas, com ou sem mulheres no altar. Por que motivo? Em tempos julguei que o problema se prenderia com a prática desportiva algumas vezes coincidente com a hora das cerimónias. Mas isso não é verdade, tal a possibilidade de opções que a Igreja oferece e a possibilidade de desencontros horários ser por demais evidente. O problema é mais complexo e tem outras origens. Ter-se-á dado conta a Igreja de que a sua doutrina e, mais do que a doutrina, a sua prática diária, num mundo dominado pelo facilitismo, pela ausência de valores, pelo consumismo supérfluo e exagerado, pela ganância e egoísmo desenfreados ( a que muitas vezes a própria Igreja não é imune), pela total ausência de testemunhos de solidariedade familiar e social, em vez de a tornarem aliciante e apelativa para os rapazes e as raparigas, a tornam obsoleta e castradora.? Hoje a maior crise da juventude é a quase total ausência de ideais. É, pois, urgente que a Igreja, peregrina e caminheira, Povo de Deus, humilde e penitente, tem de se renovar com dinamismo e modernidade, atenta aos sinais dos tempos. É indispensável uma nova missão evangelizadora, sobretudo urbana, sem os atavios e excrescências do passado e onde não haja vedetismos nem discriminações, (hoje as igrejas sem as mulheres ficariam às moscas!). É imprescindível uma missionação que volte a congregar os jovens num empenhamento vivificador, como aquele que alimentou gerações de jovens de todas as camadas sociais, aquando dos alvores da Acção Católica. Que não se fique por algumas manifestações exteriores de liturgia folclórica, mas se traduza numa solidariedade operante ,dinâmica e comprometida. Por mero narcisismo se fique revendo em documentos muito doutrinais mas de pouca operacionalidade, porque os que podem movem-se por regras e ditames totalmente distintos. Uma Igreja que não se agarre ao Poder, mas faça brotar o Poder... da Palavra de dentro de si.

quarta-feira, novembro 19, 2003

Assim não pode ser

Quando, ontem, ao fim do dia, o Cristiano Ronaldo acabou de apontar o quarto pontapé da marca de grande penalidade, suspirei de alívio e senti que, apesar de um certo beneplácito da arbitragem, (uma entrada do Postiga a um adversário na linha de fundo era merecedora de um cartão pelo menos alaranjado ─ o rapaz está muito menos jogador do que quando estava entre nós, falta-lhe o pulso e os puxões de orelhas do Mourinho, dá-se ares e, se não arrepia caminho, temos outra edição daquele que se julgava o menino mais bonito do futebol português, o Dani, jogador com excelentes potencialidades e que a irreverência da juventude, a vaidade e, sobretudo, a trituradora máquina de fazer e desfazer ídolos, a comunicação social, fizeram passar ao lado de uma grande carreira ─;também o Quaresma que tanto se fartou de protestar e jogar mal foi e vai pelos mesmos caminhos ...e quanto à primeira grande penalidade falhada pelo Lourenço não sei se muitos árbitros a mandariam repetir ), senti, dizia eu, que, no fim de contas, tinha havido uma certa justiça compensatória em relação à França, a tornar-se constantemente a nossa ‘bête noire’ nos campeonatos da Europa. Suspirei de alívio e fiquei contente.
Hoje de manhã, quando me preparava para melhor me inteirar do acontecimento, fiquei profundamente chocado e, por que não confessá-lo, perfeitamente revoltado com o comportamento dos nossos jogadores, nos balneários, após o encontro! As fotografias mostravam uma tal devastação que nem uma horda de selvagens ou de energúmenos desdenharia. A ponto de os jogadores terem de ir tomar banho ao hotel!!! São estes jovens os representantes de Portugal? É este o sentido de responsabilidade, de carácter, de honra, de ideal desportivo que tanto os dirigentes federativos como os responsáveis técnicos lhes incutem? Estamos a falar de jogadores com um já largo traquejo internacional ao serviço da selecção e dos próprios clubes, que não são novatos nestas andanças, muitos deles com largas internacionalizações! O que é que os leva, num acto de pura demência, a tamanhos desacatos, sem medirem as previsíveis pesadas consequências que daí advirão? Boa propaganda para o Euro 2004, não haja dúvida! Saltillo...,França ( Nuno Gomes, Abel Xavier...),agressão ao seleccionador..., Coreia e o murro no árbitro... agora isto! Bem podem inaugurar estádios! Se entre nós os ‘hooligans’ começam dentro do próprio balneário. E não me venham com esfarrapadas desculpas de que se tratava de uma qualquer retaliação. Ou de excessos na comemoração. Se eu mandasse, a brincadeira havia de lhes ficar cara, mas cara a doer nos bolsos...Para exemplo. Para além de outras sanções de carácter desportivo. Mas não só aos jogadores. A todos. Técnicos e dirigentes incluídos. Porque todos se portaram como escumalha que não se sabe dignificar nem tão pouco sabem dignificar o país que representam! Assim não se vai a lado nenhum. Será do stress de que fala o sargentão das brigas? Sinceramente, hoje senti-me muito, mas muito, envergonhado!

terça-feira, novembro 18, 2003

Porquê DOURO AZUL?

Após o envio de algumas cartas ao director do “Público” com reparos e comentários que me pareceram pertinentes e ajustados, apesar de críticos em relação ao jornal, depois de ter tecido algumas considerações junto da direcção da Sporttv quanto ao critério de escolha e à forma de actuação dos comentadores desportivos da referida estação televisiva, como nem uns nem outros tiveram sequer a delicadeza de , ao menos, acusar a recepção das mensagens ( democratas, democratas, mas é só quando lhes convém! Ou então se os respectivos patrões a isso os obrigam !), resolvi criar o meu blogue para, sem estar à espera de ninguém, poder dizer o que me vai na alma, comentando e desabafando, consoante se proporcionar a oportunidade. Poderão ser críticas leves e despretenciosas umas, outras mais duras, mais a “bruto”. Eu disse a bruto e não ‘abrupto’, J. P. P.! É que não me meto por esses caminhos subtis e enviesados que, muitas vezes, acabam por ser uma forma diferente de promoção mediática, para acabar , num acervo de isenção e ética invulgares, como comentador de um qualquer canal de televisão, caixa de ressonância do poder vigente. Sem qualquer intuito de manipulação, longe disso, que por essas bandas não há maniqueísmo!!! Esses são os outros!...
Douro Azul, porquê ?
Desde pequeno, quase criança de colo, que este rio me fascina. Todos os anos, aquando das férias, acompanhava-o extasiado, da janela do combóio, para depois no Pocinho apanhar a linha do Sabor. Sempre uma revelação. Sempre um encantamento. Não sei se foi o rio que moldou o homem e lhe transmitiu forças e coragem indómitas, o carácter rude, mas franco e sincero, se foi o contrário e ao ver o homem aformosear-lhe as margens com socalcos de espanto e suor, resolveu retribuir esses carinhos extremosos com néctares de assombro e de magia. Não sei. Mas há uma tal idiossincrasia, uma tal comunhão entre as duas margens, que o Douro, ora tempestuoso e irado ora meigo e dócil em vez de as separar, irmana-as e entrelaça-as em venturas e desgraças como se se tratasse de uma mesma artéria dum só corpo. E é. Portus Cale. Duas cidades ribeirinhas que tendem cada vez mais a se estreitarem de novo!
Não foi daqui que houve nome Portugal? Se as estórias que a história conta tanto numa como noutra escorrem pelas paredes do velho casario entre ruas e vielas e os candeeiros tristes e sós, como diz o Carlos Tê!
Há muito que sonho com o dia em que as duas se tornem num único centro urbano, irresistível pólo aglutinador de um norte rejeitado e esquecido, a quem dão migalhas por prebendas e ficam ofendidos por não sabermos ser agradecidos. Diz Sebastião da Gama que pelo sonho é que vamos. Estou feliz porque um dos políticos que mais admiro, Filipe Menezes, alinha na mesma utopia. Que o meu F.C. do Porto começou a corporizar. Um Douro azul numa cidade azul ?! Há lá qualquer outro “rio” que lhe possa fazer frente!

segunda-feira, novembro 17, 2003

Este é o primeiro post

É só para verificar se está tudo a funcionar.