Pontos de vista
Aqui há tempos o Senhor Bispo de Vila Real lançou um alerta na comunicação social para o facto de as missas dominicais se estarem a ressentir da excessiva presença feminina junto ao altar : ministras da comunhão, salmistas, acólitas, membros dos coros, etc. etc. o que, no seu entendimento, era altamente negativo e condicionador para a presença dos rapazes no decorrer das cerimónias litúrgicas.
Não contando com o facto da referida opinião me parecer altamente discriminatória e coincidente com uma postura que a comunicação social tem veiculado como proveniente de sectores mais retrógrados e conservadores do Vaticano, desejosos de demarcar território em vésperas de possível eleição de novo papa, parece-me que a realidade religiosa portuguesa actual não se coaduna bem com os comentários do Senhor Bispo. É certo que não conheço a situação nessa diocese, mas posso pronunciar-me um pouco sobre aquelas que conheço melhor, mais concretamente o que vejo nas cidades de Póvoa de Varzim e de Vila do Conde, da arquidiocese de Braga, e em Portalegre, na diocese de Portalegre e Castelo Branco.
Com efeito, nestes três casos, não é presença feminina junto do altar que afasta os rapazes das cerimónias litúrgicas. Pura e simplesmente nas missas dominicais a quase totalidade dos rapazes com mais de treze anos não põem os pés na igreja e uma observação como a que foi proferida não é mais do que tentar meter a cabeça na areia e não procurar indagar das verdadeiras razões do problema. No norte, depois de terem feito a comunhão solene, eles afastam-se das práticas religiosas, com ou sem mulheres no altar. Por que motivo? Em tempos julguei que o problema se prenderia com a prática desportiva algumas vezes coincidente com a hora das cerimónias. Mas isso não é verdade, tal a possibilidade de opções que a Igreja oferece e a possibilidade de desencontros horários ser por demais evidente. O problema é mais complexo e tem outras origens. Ter-se-á dado conta a Igreja de que a sua doutrina e, mais do que a doutrina, a sua prática diária, num mundo dominado pelo facilitismo, pela ausência de valores, pelo consumismo supérfluo e exagerado, pela ganância e egoísmo desenfreados ( a que muitas vezes a própria Igreja não é imune), pela total ausência de testemunhos de solidariedade familiar e social, em vez de a tornarem aliciante e apelativa para os rapazes e as raparigas, a tornam obsoleta e castradora.? Hoje a maior crise da juventude é a quase total ausência de ideais. É, pois, urgente que a Igreja, peregrina e caminheira, Povo de Deus, humilde e penitente, tem de se renovar com dinamismo e modernidade, atenta aos sinais dos tempos. É indispensável uma nova missão evangelizadora, sobretudo urbana, sem os atavios e excrescências do passado e onde não haja vedetismos nem discriminações, (hoje as igrejas sem as mulheres ficariam às moscas!). É imprescindível uma missionação que volte a congregar os jovens num empenhamento vivificador, como aquele que alimentou gerações de jovens de todas as camadas sociais, aquando dos alvores da Acção Católica. Que não se fique por algumas manifestações exteriores de liturgia folclórica, mas se traduza numa solidariedade operante ,dinâmica e comprometida. Por mero narcisismo se fique revendo em documentos muito doutrinais mas de pouca operacionalidade, porque os que podem movem-se por regras e ditames totalmente distintos. Uma Igreja que não se agarre ao Poder, mas faça brotar o Poder... da Palavra de dentro de si.
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