Lá vamos...
Nos tempos da outra senhora, o hino da mocidade portuguesa começava com os seguintes versos: «lá vamos, cantando e rindo/ levados, levados sim…».
Perguntarão alguns a que propósito virá agora esta evocação fantasmagórica, a relembrar hinos e situações de concentralização que era suposto estarem já e definitivamente arredados da nossa vida quotidiana e eu retorquirei apenas, porque, ou eu me engano muito ou estamos a voltar em muitas coisas ao antigamente. Este meu desabafo, que daria pano para mangas a todos os níveis, quero apenas reportá-lo a alguns aspectos mais significativos, do meu ponto de vista.
Senão vejamos:
– A capital manda… o Norte obedece;
– A capital gasta…o Norte não tem dinheiro;
– A capital enriquece…o Norte empobrece (cada vez mais);
- A capital tem um rendimento per capita superior à média europeia…o Norte vai esmolando desesperos;
– A capital é soberba, centralista, megalómana…o Norte indigente, servil, abúlico, subserviente;
–Na capital os despesismos escandalosos são naturais e não são notícia de jornais… no Norte quaisquer despesas, mesmo as necessárias e indispensáveis, põem logo todos em pânico e em polvorosa (governo, imprensa etc. etc.)
– Na capital investe-se…no Norte fecha-se e despede-se;
Seria um nunca mais acabar de enumerar de situações que, se não fossem dramáticas, seriam ridículas !
Culpa dos centralistas do Terreiro do Paço? De maneira nenhuma. A culpa é pura e simplesmente desta gente nortenha, desta invertebrada gente nortenha que se acocora face ao poder de Lisboa e fica toda agradecida, quando lhe concedem algumas migalhas!
O que se passa no âmbito do Apito Dourado é do mais vergonhoso, do mais indecoroso, do mais abjecto que se possa imaginar. Alguém de boa-fé e isento é capaz de garantir que as investigações que estão a ser feitas não têm um objectivo único e óbvio?
Alguém com sentido de justiça e de recta intenção é capaz de garantir que estão a ser feitas todas as investigações e em todos os domínios fraudulentos? E a todos os agentes desportivos?
Alguém quer saber como se obtiveram fortunas escandalosas de um momento para o outro?
Alguém quer saber das fugas ao fisco, dos paraísos fiscais, das lavagens de dinheiro, etc..etc.?
NINGUÉM.
O que importa e é relevante para o país é aquilo que uma puta despeitada e sem vergonha andou e anda apregoando. São essas as averiguações que a douta juíza entende como fundamentais.
E agora, pergunto eu: que interesses estão por trás de tanta hipocrisia?
Um sistema judicial assim pode ter qualquer credibilidade?
Estão todos mancomunados com o poder que cada vez está mais aviltante e perigoso.
Tenho asco dos políticos venais e trapaceiros. Tenho náuseas dos dirigentes desportivos conluiados com o poder, interesseiros e viscosos, que se servem do desporto para meros interesses de promoção pessoal e social.
Tenho repugnância da nossa comunicação social, invertebrada e sabuja em relação aos grandes interesses políticos, económicos e aos clubes da capital, sobretudo ao clube dos seis milhões!
Em suma: tenho nojo de ser português. E tenho vergonha de que haja nortenhos, cegos e facciosos, que não enxerguem onde está o mal e o mal que lhes estão a fazer. Mas é bem feito.
«Lá vamos, chorando e carpindo/ levados, levados, sim…»