sexta-feira, janeiro 28, 2005

O Reino dos Pinóquios

Longe andava Carlo Lorenzini, mais conhecido por Collodi, ao escrever as "Avventure di Pinocchio", que a sua efabulação no que diz respeito ao simpático boneco saído das prodigiosas mãos do velho Gepeto iria ter a sua conctretização real num pequeno país, no extremo ocidental da Europa.
Lembro que uma das peculiaridades de Pinóquio era a de ver crescer o seu (dele) nariz sempre que dizia uma mentira, o que, diga-se de passagem, acontecia com muita frequência. Nem os conselhos do amigo grilo falante lhe valiam.
Pois parece que Collodi estava a pensar em Portugal, quando imaginou a personagem.
Há um ditado que diz que, entre nós, «anda meio mundo a enganar o outro meio». Acho que esta proporção peca por defeito. E muito.
Mentem os políticos que nos governam e mentem também os que gostavam de nos governar. Mentem os que prometem e não cumprem, porque a política parece que agora é a arte de enganar.
Na sociedade civil tanto mentem os patrões como os empregados. Nos militares o fenómeno é idêntico, oficiais ou soldados. Na justiça, os magistrados querem a verdade, mas vivem das mentiras e tanto os advogados como os arguidos usam-na como ninguém. Mentem os médicos e o pessoal de saúde, os professores e os alunos, os engenheiros e os arquitectos... as chefias e os funcionários. Dos comerciantes aos operários é um salve-se quem puder e até os agricultores, na cata de algum subsidiozito, só não mentem se não vier proveito. Dos caçadores já se sabe. E os pescadores são iguais. Nas feiras só não burla quem não sabe ser feirante...
Mentem ( e de que maneira!) os jornalistas, os comentadores, os analistas e outros actores, os árbitros, os dirigentes, os treinadores e os assistentes, para não falar dos jogadores.
Mentem todos, todos mentem, mas neste reino de mentirosos, apesar do nariz não lhes crescer em proporção, não há regra sem excepção. Felizmente para o país, para esta nação valente e imortal, ainda há gente impoluta, verdadeira e transparente, com um passado e um presente limpo e sem mácula, em quem todas as pessoas se podem rever com admiração. Eles são e vão ser os regeneradores de todo um Portugal doente e adormecido: é o kadhafi dos pneus e o alzhaimer das cunhas. Abençoado país que tais filhos teve.
Tenho dito