sábado, novembro 20, 2004

Grande treinador

"Erros nossos, má fortuna e violência
Em nossa perdição se conjuraram
Como os erros e a desordem sobejaram
A derrota tornou-se uma evidência!"

Faço aqui uma adaptação camoniana que, julgo, sintetiza a minha frustração, o meu desencanto, a minha raiva, com o resultado desta noite no 'Dragão'.
Tanto apregoaram que o Porto era a única equipa sem derrotas no seu estádio, após a inauguração do mesmo, que, logo no primeiro desafio após o aniversário, soçobrou. Poder-se-ão arranjar algumas desculpas para o desaire, mas a realidade é insofismável. Estamos a aproximar-nos a passos largos das exibições desconexas, descoloridas e medíocres do tempo do Octávio .
Já não somos a equipa dos campeões europeus (andamos apenas travestidos de campeões) e não são só as lesões a justificar o descalabro. Falta muita coisa mais e isso é que dói.
Aliás, se a SAD quiser, ainda se vai a tempo de mudar de agulha e recuperar alguma coisa.
É altura de se fazer a conveniente análise do que tem corrido mal e de pôr os dedos na ferida ou nas feridas. Agir enquanto é tempo e acabar com jogadas de bastidores que, em vez de moralizar, têm o efeito precisamente contrário. Não se venha com argumentos falaciosos, desculpas de mau pagador para enganar papalvos como é costume fazerem os nossos adversários, reconheça-se onde se errou e procure-se remédio. Isso é que é ser grande.
Este ano foram feitos muitos erros. Demasiados erros. O nooso presidente, inteligente como é, tem que reconhecer que a política das contratações disparatadas só para que um ou outro jogador não tivesse ido para os rivais foi uma asneira pegada. Por outro lado, já alguém pensou por que é que o Mourinho quis fundamentalmente jogadores portugueses? Por alguma razão foi. Nós pomo-los a rodar noutras equipas e depois... dispensamo-los para contratar mais uns brasileiros. Cada vez mais brasileiros. Não percebo, francamente não percebo.
Má escolha de treinadores, má política na contratação e dispensa de alguns jogadores (não me conformo com a dispensa do Pedro Mendes e a onerosa vinda do H. Postiga), uma preparação física a deixar muito a desejar, tudo junto tinha necessariamente que dar nesta embrulhada.
Onde vamos parar com tudo isto? A Taça dos Campeões a esfumar-se sem honra nem proveito
(iremos à UEFA? duvido); a Taça de Portugal perdida; o Campeonato periclitante; a
Intercontinental, sabe Deus!...E tudo isto com o treinador muito delicodoce, muito diz que diz, e com que resultados?! Nada. Seria preferível calar-se e ir para a bancada. Sempre via melhor.
O Boavista não jogou nada. Mas ganhou três pontos. Pode-se lá admitir a expulsão do Benni? Por muitas razões que tivesse, um jogador com o traquejo dele, deixar-se cair na infantilidade de socar o adversário?
Admite-se o amarelo do Baía? Admitem-se os falhanços sozinhos dos avançados em frente do guarda-redes?
Sabem por que é que o Seitaridis raramente passa o meio- campo? Porque está estourado e , apesar disso, é o único da defesa que tem velocidade para acompanhar os adversários, quando entram em contra-ataque. Temos alternativa para o pôr a descansar? Que flanqueadores temos? O Leandro não virá para ir para o estaleiro?
Não se pode censurar a entrega dos jogadores no jogo de hoje. Mas faltou clarividência e alguma sorte. No entanto, há muito a corrigir, disso não haja a menor dúvida. Enquanto é tempo. Comparar esta época com a anterior é querer tapar o sol com uma peneira. Deixemo-nos de subferfúgios, Pinto da Costa.