terça-feira, julho 05, 2005

Um olhar do Norte

Hoje de manhã, numa esplanada de praia, enquanto esperava pelo café, dei com os olhos num "avante" vermelho de domingo passado que ficara esquecido numa cadeira vizinha. Como é jornal (?) que só compro às terças-feiras (já disse pessoalmente ao MST, no estádio do Dragão, que ele é o responsável pela minha indesejada contribuição desse dia para um dos órgãos da auto proclamada "instituição", órgãos esses que, pela sua notória falta de isenção, pelo seu facciosismo doentio, pela total ausência de escrúpulos, quando se trata de defender a sua dama e atacar principalmente o FCP, aborreço sobremaneira), como só compro nesses dias (e nem sempre), dizia eu, resolvi passar uma vista de olhos pelas páginas, apesar de atrasadas. Eis senão quando, no meio da costumada e proverbial propaganda rubra ( e também verde há que dizê-lo) deparo com um artigo de opinião de Jorge Olímpio Bento, com o título "Da história do ovo e da galinha", artigo esse que suponho fazer parte da crónica semanal do autor referida em epígrafe e que surgiu a meus olhos como uma lufada de ar fresco na pasmaceira balofa e bacoca das notícias e comentários do citado jornal(?).
Refere-se ao problema da arbitragem em Portugal, sempre tão em voga, mas principalmente agora, num momento em que os camaleões ( como é que o senil disse uma acertada?) andam por aí à solta.
Trata-se de uma crónica onde a agudeza de espírito se alia a uma justeza de apreciação que os espíritos bem formados e isentos deveriam aproveitar para seriamente meditar.
Dada a importância do artigo, com a devida vénia, permito-me respigar alguns excertos:
«(...) Também me intima a voltar à liça o terreno falso em que os árbitros andam a lavrar. Reclamam as luzes da ribalta;julgam-se protagonistas do jogo como os atletas e treinadores e querem ser parceiros dos dirigentes!Isto revela a ideia pervertida que têm da sua função.Eis a corporação nos píncaros da insanidade cega e da loucura deslumbrada!
Volto a repetir, se necessário letra a letra e com assinatura reconhecida em cartório: a arbitragem é o pior sector do nosso futebol. (...) a arbitragem mostra a parte negativa e negra do nosso futebol; é o lado visível do icebergue da baixeza e mediocridade.
A precisão da última formulação não ilude o facto de a qualidade do nosso futebol ser superior à da arbitragem, o que é bem provado pelo nível da nossa participação no cenário internacional,p.e. pelo lugar que a Selecção ocupa no ranking da FIFA. Não escamoteia igualmente o facto de os nossos árbitros serem indesejáveis nesse mesmo cenário. E tem a vantagem de subentender que as responsabilidadese culpas do mau estado do sector devem ser repartidas por vários agentes e não apenas pelos árbitros. Os dirigentes das organizações do futebol e os críticos estão também implicados: os primeiros porque - vá lá saber-se porquê! - mantêm uma situação que atrai sobre si salpicos de lama e podridão; os segundos porque nem sempre se pautam pelo dever de isenção e muitas vezes falam, escrevem e manipulam ao serviço da alienação. Uns e outros sabem e consentem de mais; dão-se bem com a ordem estabelecida, como se fosse um vento que lhes sopra de feição e traz conveniência.
Isto em nada alivia e diminui as culpas dos árbitros e dos seus chefes e mentores. Nem justifica ou branqueia o excesso de actuações e protagonismos inaceitáveis em que as equipas de arbitragem são useiras e vezeiras. Nem tampouco passa um atestado de asseio, brancura, decência, transparência e urbanidade à orientação e conduta da corporação. Quero sim afirmar que, na água da arbitragem, vem à tona tudo quanto de instintivo, irracional, primitivo, sujo, amoral, rasteiro, indigno,anticívico pasta no nosso futebol, lhe tolhe os passos e poda as asas, impedindo-o de correr lesto e voar mais alto.
A fazer fé no que se diz, vê e ouve, nos sinais que se fazem e no fumo que se adensa, o desconcerto da arbitragem expressa e reproduz um clima de pressão, condicionamento, corrupção e falcatrua. Parece até que este clima não é local; pelo contrário, abrange todo o território, o que alarga a malha dos culpados e encurta a dos ingénuos e inocentes. A tal ponto que não é de boa jurisprudência pôr as mãos no fogo por ninguém.(...) Não sei se algum (dirigente) está envolvido em práticas de aliciamento, chantagem, manipulação e corrupção dos árbitros. (...) Todavia há uma coisa que eu sei e tenho de fonte segura que é a experiência da minha vida: muito dificilmente alguém é abordado se não for abordável, é aliciado se não for aliciável, é manipulado se não manipulável, é comprado e subornado se não for vendível e subornável.
Com isto quero dizer que,no panorama de acusações e suspeitas que rodeiam a arbitragem, se repete a história do ovo e da galinha. O que é que surge primeiro: a vontade dos dirigentes para condicionar os árbitros ou a pré-disposição destes a serem abordados? São os dirigentes que assumem o risco e a iniciativa de captar as simpatias e favores dos árbitros ou são estes que se insinuam, pôem a jeito e abrem a porta a contactos, sugestões e propostas? São feitas ofertas a árbitros ou são estes que as pedem e reclamam? São abordados a contragosto ou, pelo contrário, não se fazem muito rogados? Os agrados são para beneficiar ou para não prejudicar quem os faz? Etc....»
O artigo não acaba aqui, mas cuido que transcrevi o essencial. Se os Serpas, os Márcios, os Ritas, os Farinhas, os Cruzes (canhoto) dos Santos, os Guerras, os Bonzinhos e os Mauzinhos, para não falar nos sevandijas que pululam no "avante" verde, se todos aqueles que, com culpas no cartório, peroram sobre a arbitragem, meditassem honestamente sobre o assunto, outro galo cantaria!

3 Comments:

At 9 de julho de 2005 às 01:10, Blogger Dragão Azul said...

Pois é... é a realidade!
Bem vindo ao nosso país ;-)

Azul e Branco: Sempre por ti PORTO!

 
At 13 de julho de 2005 às 23:58, Anonymous Anónimo said...

Não precisas de pagar pelo papel higiénico!

Vai ao site deles no dia a seguir, onde diz colunistas e sacas o texto FREE :)

http://www.abola.pt/colunistas/index.asp

 
At 12 de outubro de 2008 às 23:43, Anonymous Anónimo said...

O seleccionador Silva Tavares que também era jornalista disse uma vez que teve um sonho terrível.
Que o diabo viera desafiá-lo para jogar contra a selecção nacional, ao que Silva Tavares afirmou que lhe ganharia à vontade.
Que não, dissera o diabo, que ele sim, lhe ganharia à vontade.
Como assim ripostou o seleccionador, se tenho a melhor equipa.
Pois terás, respondeu o diabo, mas eu tenho os árbitros.

 

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