segunda-feira, maio 23, 2005

Rescaldo

Há uma passagem do livro de Dan Brown, 'O Código Da Vinci', que me tem feito pensar a propósito do fenómeno desportivo português e mais concretamente a respeito da famigerada alienação clubista, em especial daquela que diz respeito aos lampiões. Diz Dan Brown:«Todas as fés do mundo se baseiam em invenções... (i.é) a aceitação daquilo que imaginamos ser verdade, daquilo que não podemos provar(...), (tudo feito) através de metáforas, de alegorias, de exageros. As metáforas são uma maneira de ajudar as nossas mentes a processar o improcessável»CDVpp408/409.
Quando uma comunicação social alimenta até à exaustão campanhas de intoxicação e desinformação, manieta a pseudo -informação com notícias truncadas, deformadas ou meramente inventadas, denegrindo atitudes ou insinuando atropelos, nada mais está fazendo do que a promover- deliberadamente- o obscurantismo da razão, a rejeição da crítica desapaixonada, a procura desenfreada de uma qualquer fé que ajude os incautos a superar o insucesso.É que, como também afirma Dan Brown, «as pessoas são capazes de ir muito mais longe por causa daquilo que temem do que por causa daquilo que desejam».
Vem isto a propósito do campeonato nacional de futebol que ontem acabou, dos comportamentos bons e maus associados a tal evento e do desencadear de paixões com ele relacionadas.
Neste momento (diga-se de passagem, nos últimos 22 anos, para sermos mais precisos) o clube que ousou pôr algumas pedras na engrenagem, ditatorial, centralista, megalómena, mas não acéfala de Lisboa, foi o FCP e, como tal, passou a ser o mais temido, e também, como tal, passou a ser o mais ostracizado e perseguido. Lembremo-nos do que têm sido as execrandas e nauseabundas campanhas de guerrilha continuada que ao longo destas duas décadas têm sido organizadas contra o FCP e particularmente contra o seu presidente e vejamos se isto não faz parte de um plano que, de longa data e por toda a parte vem sendo gizado contra o nosso clube.
Apesar da conquista de ontem, mais por demérito de quem efectivamente a merecia, passe a redundância, e não estou a referir-me aos dragões, do que pela valia do conjunto vencedor, apesar do triunfo há tantos anos esperado e desesperado, dizia eu, se perguntarem à maior parte dos "benfas" se preferia esta vitória no campeonato ou a condenação de Pinto da Costa, estou certo de que, se tivessem a certeza da condenação do presidente do Porto, não se importariam de esperar outra década de jejum, um pouco como o Jacob de que fala Camões.
E porquê? Porque ele representa aquilo que há muitos anos temem, aquilo de que têm um medo alucinado e feroz. Ele faz-lhes perder a segurança, fá-los vacilar na sua arrogância, torna-os titubeantes e vazios. A remoerem ódios e frustrações. Por isso, aceitam as invenções, aquilo que imaginam ser verdade e que uns, tão frustrados como eles, apregoam, alimentam-se das metáforas, das alegorias, dos exageros que se criam, numa manifestação de fé facciosa e demente que os torna ridículos.
O que vale é que agora, depois de tanta trafulhice, o país acordou menos deprimido e a respirar optimismo e confiança. O ar alucinado e histérico dos repórteres e dos comentadores desportivos ao longo de toda a madrugada foi bem o exemplo disso.

2 Comments:

At 24 de maio de 2005 às 17:46, Anonymous Anónimo said...

Excelente, também pela lucidez.

 
At 29 de maio de 2005 às 22:46, Anonymous Anónimo said...

Análise fantástica...
Felizmente não somos todos cegos e alienados!

 

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